30 agosto, 2005

O sangue da vida

Não parece, mas faz um mês, hoje, que me casei. O dia 30 de julho de 2005 poderia bem se tornar o novo dia do meu nascimento na carteira de identidade - e as mudanças são tão avassaladoras que a gente fica tentando não mudar nada que é para agüentar o tranco. Em outras palavras: melhor disfarçar, porque naquela vaga em que você deixou o Fusca hoje tem um Lamborghine. Tudo, tudo mudado.
Foi o fim de um período de muito trabalho, muitas dificuldades, até para organizar a cerimônia. Que valeu muito à pena, valeu todo o sacrifício. Você que namora há muito tempo, você que quer se casar, bom, sabe que existem vários caminhos, mas eu digo sempre que há basicamente duas freeways: ou você se organiza para dar uma boa festa e parte para alugar apartamento, ou você dispensa momentaneamente a festa para juntar uma grana e dar entrada em um imóvel. Os dois caminhos são válidos - claro, estou falando isto para pessoas que não têm recursos para dar a festa e comprar o apê ao mesmo tempo.
Mas o caminho da festa, este tem uma paisagem que vai ficar para sempre na sua visão, na sua mente e no seu coração. Entendo perfeitamente a gigantesca importância de comprar o imóvel onde se vai viver e gostaria mesmo de ter dinheiro para comprar um.
Enquanto não tenho esta grana, porém, fico pensando: eu tenho um dia para minha vida, e este dia é o dia 30 de julho de 2005, o dia em que me casei com Marcele. Se me oferecessem um apartamento em troca desta lembrança, eu garanto: pagaria aluguel dobrado para não perder a memória. Que, afinal, é o sangue da vida.

Lista de convidados

De toda a preparação para um casamento, não há nada, realmente, mais incômodo do que a sua lista de convidados. O buffet determina o preço por pessoa, a igreja e o salão dão um limite, mas nem precisavam: o preço por pessoa limitava os convidados a 300 pessoas. "Vamos subir para 350? Preciso colocar pelo menos mais 25 pessoas cada um, né?", eu perguntei para Marcele.
Subimos para 400. Impossível reunir parentes e, principalmente, amigos em uma lista de 200 pessoas, no meu caso. Foram 37 anos vividos - neles, seis jornais impressos (um deles duas vezes), um site de internet, uma campanha política (1996) e alguns frilances. Para se ter uma idéia, a minha primeira lista, não-oficial, incluindo parentes, tinha na verdade 295 pessoas.
Contei com a distância em alguns casos (se viessem todos meus parentes da Bahia, ia complicar), com o passar do tempo em outros, e cheguei a 150. Depois subi para 200, mas a preocupação com o controle do buffet pesou (para noivo e noiva) e fomos cortando um pouco mais. Tentamos evitar as 400 pessoas. Pareciam mesmo inevitáveis. Mas acabei fazendo cortes - nada é mais parecido com um passaralho do que uma lista de casamento, simplesmente pelo fato de que, você tendo muitos amigos, é inevitável ter que cortar alguém que você gosta. Ou então você é rico e chama todo mundo e aluga o Maracanã.
E assim foi feito, gente que eu queria muito foi deixada fora da lista.
Só que aí acontece aquilo que já tinham me avisado: muita gente FALTA ao casamento. E pior: NÃO AVISAM ANTES que vão faltar. Havia 12 convites não entregues que eu poderia entregar caso alguém desconfirmasse presença. Em suma, lambança feita, mas nada que estragasse a festa. Só deu tristeza constatar que o buffet não controlou NADA em relação ao número de convidados, ou seja, eu poderia relaxar um pouco.
O pior é o seguinte: jamais poder dizer "fica pra próxima".