30 novembro, 2003

Gostava de ganhar na Mega Sena
Antes da Copa do Mundo de 2002, atendi na redação um telefonema de um jornalista de Portugal. Na nossa correria diária, é difícil atender a pessoa da maneira correta quando a gente não conhece - mas eu faço esforço para ajudar ao máximo quem liga. Afinal, como jornalista mediano que sou, estou sempre precisando também da ajuda alheia.
Por meio de telefonemas e mensagens, mantive assim uma amizade com o jornalista Norberto Lopes, do site Mais Futebol, ambos trocando ajuda mútua, principalmente durante a Copa.
Acompanhei a indignação deste amigo com a decepcionante campanha de Portugal em 2002 (tanto eu como ele achávamos que os lusos iriam longe), e depois continuamos trocando informações.
Agora, por meio dos blogs - o dele é o Remoinhos - vamos discutir as sempre interessantes diferenças linguísticas entre o Português de Portugal e o nosso. Mário Prata já lançou um livro há anos, Schifazfavoire, sobre essas diferenças, e todo mundo já sabe que no Brasil "bicha" é sinônimo de gay e em Portugal é o nome que se dá à fila.
Porém, conversando com Norberto sobre futebol, reparei que ele dizia, por exemplo, "eu gostava de ver Zidane no meu time" (ele torce para o Porto, se não me falha a memória). Por um momento, ficava até confuso, achando que o Zidane tinha essa parte escondida de sua biografia. Mas não. Confesso minha ignorância, realmente não sabia que lá quando se diz "eu gostava" é o mesmo que "eu gostaria".
É interessante. Parece que o interlocutor está visualizando um "passado próximo". Parece que a gente sai do campo dos sonhos, expresso no "eu gostaria", para o campo da construção dos sonhos, com o "eu gostava". Eu gostava, por exemplo, de acertar as seis dezenas de quarta agora na Mega Sena.
Enfim, são diferenças muito interessantes. Essa fase de conversas sobre o tema vai ser agradável, pois gosto da cultura portuguesa, de tudo o que envolve a língua. Costumo dizer que as únicas coisas que não gosto de Portugal são o Vasco (Norberto, não sei se você conhece o clube, rival do meu Flamengo) e o Salazar. Se bem que, perto do Vasco, Salazar é até passável.

29 novembro, 2003

Frases da semana
Das centenas de frases recebidas esta semana, destaco as duas vencedoras abaixo (sempre lembrando que não sou consumidor da canabis, apesar de não ter porra nenhuma contra quem consome):

"Eu fumo maconha, mas não trago.
Quem traz é um amigo meu."


e

"Quem acha tudo gozado é camareira de motel"

Só mesmo a Língua Portuguesa para produzir ambiguidades como estas.

Santa Crau
Deu na rádio CBN, no programa do meio-dia, de Carlos Alberto Sardenberg: na Nova Zelândia, serão fabricadas cadeiras especiais para as crianças sentarem ao lado dos Papais Noéis de loja. Neste Natal, a prática de criança sentar no colo do Papai Noel está proibida, para evitar possíveis acusações de pedofilia.
Bom, na minha opinião, para que neguinho chegue ao ponto de decretar lei e regulamentar o modo com que a criança vai se sentar, é porque há precedente. Ou seja, na Nova Zelândia, o velho Santa Claus tinha outra afinidade com o Michael Jackson, além da proximidade com as renas.
É, diante disso só dá para pensar a frase clássica: o fim está próximo.

27 novembro, 2003

Algumas notas
* Me inscrevi no sensacional site http://www.hattrick.org, com o nome gustones e criei um time cujo nome é em homenagem à melhor lista de email de todos os tempos, a Fla Bujica. Em seu primeiro amistoso, o Fla Bujica empatou em 1 a 1 com o Sele Inter, mas desconfio de que o árbitro tenha roubado.
* A idéia ótima do amigo Inagaki, de colocar links para blogs de Portugal, gerou filhos: o meu camarada Norberto Lopes, autor do Remoinhos está propondo a criação de novas formas de integração dos web logs da Língua Portuguesa e mesmo a discussão sobre as diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil. Olha que pode dar certo. Norberto conhece bem o idioma pátrio, como redator e repórter do site Mais Futebol, um dos melhores e mais bem desenhados sites esportivos de Portugal.
p.s.- Acertei o link do Mais Futebol, que estava errado.
*Ainda sobre amor e comida, o diálogo entre mim e Marcele:
- Começou a chover forte, uma ventania forte, jogando coisas nos meus olhos - disse ela.
- E você não se abrigou? - perguntei.
- Claro que me abriguei? - ela respondeu.
- Onde?
- Ah, eu estava passando em frente ao McDonald´s, aí entrei...
Disse isso sorrindo, tranqüila, com calma. Não tem jeito, é a mulher da minha vida.

26 novembro, 2003

Estupidez de escorpião
A estupidez deles não os deixa ver – mas ao contrário do que diz a música do Rei Roberto, no caso do meu bairro, amor não tem nada a ver com isso. O problema é a convivência e o ódio. Pensei nisso hoje, quando Marcele precisou ir até a Rua General Canabarro (onde estudei por quatro anos, no Cefet), na Tijuca, e tive que orientá-la a pegar dois ônibus, quando há uns 10 anos (ou mais), havia o saudoso 442 (Lins-Urca), que integrava o bairro com a Tijuca, o Méier, o Lins. Os motoristas e trocadores conheciam todo mundo, por causa do tempo de viagem, e acabavam criando bom relacionamento com os passageiros – sempre que eu me atrasava DOIS MINUTOS para pegar o busão das 6h20 da matina, o cara estava lá paradão, o ônibus com três passageiros, os cinco ocupantes do veículo entendendo que se eu não pegasse aquele, babau. Só às sete – horário em que eu deveria entrar.
O problema é que, nos fins de semana, o 442 trazia “aquela gente da Zona Norte”. A praia lotava, e alguns moradores preferiam resmungar em vez de simplesmente ir procurar outra. Aí veio a Associação de Moradores daqui – que é o lixo dos lixos, o que de pior existe em politicagem e bajulação de vereadores – e simplesmente fez lobby para que o 442 fosse extinto, para nos salvar dos terríveis suburbanos que assolavam nossa pobre prainha.
Resultado: os suburbanos passaram a vir de trem (já vinham antes), só que lotando o 107 (Central-Urca) muito mais do que já era lotado.
Ficamos assim: a decisão da Associação de Moradores fudeu o antigo passageiro de 107, que passou a conviver com os do 442, em um ônibus mais lotado. Fuderam com os moradores que porventura tivessem que pegar o 107 no fim de semana. Fuderam obviamente com os moradores da Tijuca e outros bairros, que passaram a ter que pegar dois ônibus para entrar e sair daqui. E fuderam com os moradores da Urca que não têm carro mas que por alguma razão precisam ir a bairros além da Central.
Nessa fudelança toda, só quem não entrou com a bunda foi a dondoca que continuou com a mesma vidinha de sempre, reclamando dos suburbanos que sujam a praia (infelizmente, a praia fica imunda mesmo, mas não acho que o problema seja geográfico). A dondoca continua tendo do que falar mal, enquanto seu lulu felpudo deposita quilos de merda ao ano na calçada em que os sem-cachorro pisam.
Urca association A Associação dos Moradores daqui, como qualquer uma, tem lá suas conquistas. Mas sua orientação política é de lascar. Em primeiro lugar, há anos dizem que “vão ver o problema do Foro Laudêmio”, que é um imposto pago por quem vive à beira do mar. É sério. Quem mora na beira do mar, mora em terreno da Marinha, e por isso paga 400 contos de réis por ano à União – um imposto que a gente paga e não vê em que está sendo usado.
Essa mesma Associação deixa que várias obras públicas sejam festejadas com faixas da vereadora-camaleão Leila Maywald, aquela que procura sempre se unir ao partido que está na frente.Hoje ela deve ser Cruzeiro (em 1996, vi isso de perto, trabalhando na assessoria de imprensa do PSDB).
Nos pontos de ônibus, a prefeitura instalou abrigos, que eram muito úteis para dias de chuva e mesmo de sol. Tinha anúncios, mas who cares a shit? Anúncios são fonte de custeio, podem ser úteis nesse caso. Sabem o que fez a Associação? Iniciou uma “campanha paisagista” contra os abrigos por causa dos anúncios. Sobre isso, nem vou falar mais nada, porque tenho a minha própria teoria.
No jornalzinho da Associação, volta e meia vem notícias policiais como “imediatamente acionado, o sargento Fulano abordou elementos que consumiam maconha na murada da Urca”. Uau! Imagino que isso tenha sido até filmado pelo 911 Urgente. Pena que não puderam abordar os elementos que há cinco anos saíram do meu prédio com diversas coisas retiradas de minha casa. Talvez por causa do horário – três horas da tarde – afinal os PMs precisam dormir durante o dia para estarem acordados à noite e flagrarem os tais elementos fumando maconha. Bom, espero que pelo menos sejam os mesmos que furtaram minha casa.
Assim é a vida aqui. Como na vida pública, somos consumidores exigentes e fornecedores relapsos. Antes de falar da sujeira realmente terrível deixada pelos frequentadores da Praia, queria ver os donos de cachorro fundarem uma cooperativa de Limpadores de Bosta. Quem sabe não gerariam empregos?
Por enquanto, vamos convivendo com essa estupidez de escorpião, encontrando soluções que só pioram para a maioria.

25 novembro, 2003

Nos tempos do rádio
Nos tempos de convalescência, costumava acordar às 5h30, por causa da dor. Quando a programação da TV a cabo era uma merda absoluta (quase sempre), eu ligava um radinho de pilha na CBN e ficava ouvindo e lendo alguma coisa. Como é complicado se concentrar com dor para ler, acabava ficando com o rádio.
Sem poder acessar a internet a fim de me distrair, aí então o rádio assumia uma importância ainda maior. E descobri uma programação ótima na CBN, se você começar a ouvir lá pelas sete e meia da matina e parar ao meio-dia: você ouve Gilberto Dimenstein, Arnaldo Jabor, Carlos Alberto Sardenberg, Merval Pereira, Mauro Halfeld (a economia ao alcance de todos), Liberdade de Expressão (com Cony e Xexéo) e o ótimo CBN Rio, apresentado por Sidney Resende, com tudo sobre a cidade - inclusive esporte. "É mais eficiente do que ler jornal, nem precisa comprar", já me disse o historiador do rock Rodrigo Cobra, que nas horas vagas é engenheiro. Concordo. O rádio, além de tudo, tem a graça de trazer as notícias bem em cima da hora, ao ponto que, em alguns casos, você consegue até ouvir os tiros ao fundo da "sonora" do repórter.
Outra vantagem: você ouve o que você não quer. Ou seja, se nos jornais impressos e na internet a parte de economia às vezes é jogada no lixo, com o radinho ligado ali do lado você é obrigado a ouvir e acaba se informando.
Agora, se você seguir a minha dica, procura ouvir de vez em quando o Cidade do Blues, na Rádio Cidade FM, todas segundas-feiras, à meia-noite. Volta e meia vou aparecer por lá. Se é que isso é algum atrativo.

Sobre amor e comida
Quem freqüenta o Agridoce já sabe que minha namorada está mais para doce do que para qualquer outra coisa. Marcele é alguém que, por definição, nos dá o prazer de se deixar cuidar.
Nesse momento pelo qual passo, de dietas, exercícios, etc, minha namorada tem feito um esforço enorme para se adaptar - por amor, simplesmente por amor mesmo. Por ela, seria pizza no café, pizza no almoço e McDonald´s na janta, que eu sei muito bem. Ah, e lanchinho no Spoletto.
Mas ela tem caminhado comigo, dado corridinhas na pista, e até se alimentado melhor - o que é, claro, um desejo meu, afinal, um dia ela vai carregar "alguém" por nove meses, e precisa até lá estar se alimentando bem.
Pois eis que outro dia ela chega lá em casa toda séria, coloca a pasta da faculdade ao lado da cama e fica vendo televisão. Ressalte-se que poucos minutos antes tivemos uma discussão sobre a adoração dela pela Junkie Food. Estou lá, deitado, vendo TV com ela, quando através da pasta transparente vi um folder amarelo e vermelho. Aí vi o que estava escrito: "Guia Nutricional do McDonald´s".
Comecei então um dos maiores ataques de riso dos últimos anos. Peguei o tal guia sem acreditar que o McDonald´s pudesse publicar um texto que tem o mesmo valor para mim do que o "Guia de Ética do Silveirinha" ou "O livro de ouro da honestidade, por Jorgina do INSS". Lá estavam todos os "conservantes naturais" do McDonald´s e uma tabela de calorias.
Olhei para minha namorada e ela estava fazendo o mais lindo beicinho que já vi. Perguntei: "Vem cá, você estava guardando isso para usar em uma discussão futura?". Ela disse "Não!", resmungando. E eu até acredito. Mas que foi engraçado demais, foi.
Sim, acho que amo Marcele porque ela carrega Guia Nutricional do McDonald´s e ainda DEIXA EU ACHAR. Sensacional.

23 novembro, 2003

Acoustic Motherfucker
Nesta segunda, dia 24, por volta de 23h45, meia-noite, ou meia-noite e alguma coisa, estarei com meu amigo Vinícius Sá no programa Cidade do Blues, mostrando algumas coisas inóspitas dos Acoustic Motherfuckers (ou Rolling Stones, como são mais conhecidos) e do ídolo eterno Rory Gallagher. Quem quiser ouvir, é só sintonizar na Rádio Cidade na hora supracitada. Até lá!

P.S. - Quem quiser mandar emails para o programa reclamando do convidado desta noite, o endereço é cidadedoblues@radiocidade.fm.

19 novembro, 2003

Foco perdido
Outro dia estava conversando com meu amigo Colorado sobre a minha nova condição de sujeito saudável (devido às circunstâncias), e ele me perguntou se "cerveja sem álcool" adiantava alguma coisa. Elegantemente, eu disse que não dá. E comparei: cerveja sem álcool para alguém acostumado à biritar com álcool é como ouvir um CD com músicas do Roberto Carlos só que cantadas pelo João Kleber imitando o Rei. É perder o foco da situação.
Comecei a reparar então como se perde o foco facilmente na nossa vida moderna (?). Neguinho fala em pizza light, mas é evidente que pizza light não é pizza - pode ser qualquer outra coisa. É perder o foco. Já ouvi falar, por exemplo, em "feijoada vegetariana".
Eu acho que deveriam proibir que o nome "feijoada" fosse usado nesses casos - nada que não tenha o famoso "vodu de porco" (royalties para Cascalho Ventura, inventor da genial expressão) pode ser chamado de feijoada. Se não tiver uma orelha ou uma costela boiando, não pode nunca ser feijoada.
Vivemos mesmo a era do "perder o foco". São frustrantes as "tentativas" de substituir as coisas deliciosas mas prejudiciais à saúde por outras "lights". Tirando a Coca light, à qual já me acostumei, o iogurte e o guaraná Antártica, o resto dos genéricos Light não chega nem aos pés dos originais. Como comer "pizza de berinjela" impunemente?
Enfim, essas coisas de perder o foco é como chamar ergométrica de bicicleta. Ou é uma coisa ou é outra (mesma relação de homem e bailarino). Ergométrica é um negócio que faz suas pernas mexerem. Bicicleta é outro, que faz a mesma coisa mas te leva a algum lugar.
No mais, ninguém precisa explicar a ninguém que boneca inflável não é mulher. Logo, vamos simplificar.

16 novembro, 2003

Reforço no caixa
Já vendeu seu violão velho? A coleção de Mad ou Placar? O aparelho de ginástica raramente usado? Já vendeu tudo que tinha para vender e mesmo assim ainda não conseguiu juntar grana para comprar o CD da Maria Rita para sua cunhada e um grill do George Foreman para a sogrona?
Pois a solução chegou! Não perca tempo!
Clique no site http://www.wewantyoursoul.com/ e faça um bom negócio.
Em tempo: minha alma vale 28.459 libras. Mas depois dos últimos meses, vou esperar para ver se os preços sobem.

13 novembro, 2003

Esquecimento
Eu sabia que ia esquecer alguém nos agradecimentos abaixo. Corro risco de vida se não lembrar que Michele Chalupe me telefonou de Sampa para dar uma força, aliás, duas forças. Quem quiser saber de quem estou falando, clica aqui.

Esquecimento - Parte 2 - Altíssima gravidade
- Ela te ligou várias vezes, deu atenção, mandou telefones e endereço de acupuntura, fisioterapia, médico...
Esse foi um leve esporro que Marcele me deu quando eu dei uma porrada na minha própria testa e disse, no Metrô:
- Puta que pariu! Naquela lista de pessoas a quem devo agradecer me esqueci de incluir a Teresa! Que merda!
É, não tem muita desculpa. Vou deixar o registro-remendo aqui. Também devo muito a essa amiga TT (abreviatura de Teresa Tavares – ciberneticamente, a chamo de “TT” desde os tempos de emails do Extra).

12 novembro, 2003

O longo caminho
Sim, o dia 13 de novembro passa a ser meu feriado particular. Hoje, voltarei a trabalhar, volto a pisar no meu ambiente de trabalho, algo que não faço desde o dia 1 de agosto – o dia em que começou a longa letargia, o longo tratamento clínico que me impediu a locomoção e qualquer outra posição que não fosse deitado.
A dor ainda existe, como um cão amarrado que volta e meia pula na jugular, rosna, ameaça arrancar pedaço. Mas o cão não late o tempo todo – dá para aguentar, dá para voltar a ter vida social.
Às vezes penso que não aconteceu – quando me lembro dos dias piores, lá por julho/agosto, quando eu gemia de dor até durante o sono. Me lembro das crises depressivas, da dieta violenta (aliás, continuo nela), dos dias iguais, da programação da TV (principalmente dos terríveis programas esportivos ao meio-dia), das leituras, da hora dos remédios, dos programas de rádio.
Me dá ainda um pouco de depressão lembrar da hora do CBN Esporte Clube, às 20h. Eu ligava o rádio e ia para a área de serviço tomar os remédios e o milk-shake dietético que eu consumia à noite para evitar que meu peso aumentasse durante o sono.
Aí o âncora, Juca Kfouri, mandava uma espécie de vinheta pessoal dele:
- Dona Nadir! Oito horas e trinta minutos! Hora do seu remédio! E hora também do repórter CBN!
Não sei quem é a dona Nadir, só sei que me dava a maior deprê – caceta, eu e mais uma senhora estávamos naquela mesma hora, tomando nossos remédios diários, esperando a vida passar.
Mas ainda bem que ela não passou. Estou de volta.

Agradecimentos
Duas mulheres, as duas principais da minha vida, merecem os agradecimentos maiores por eu ter passado na “primeira fase” deste momento difícil. E é óbvio que são minha mãe e minha namorada. Minha mãe construiu uma dieta infalível, espetacular, que me fez cair de 80 para 60kg nestes quatro meses. Pagou muitas caixas de Deflanil e Arcoxia quando viu que a barra estava pesando pro meu lado. E teve toda a paciência do mundo – paciência essa que também teve minha menina, que aturou depressão, dor, desesperança, tédio, cansaço da alma, mais dor, enfim, Marcele ficou ao meu lado. E fico pensando no quanto ela ficou ao meu lado, e no quanto eu pude ver com mais clareza ainda que ela é a mulher que ficará para sempre assim – digo isso sem nenhum medo.
Uma terceira mulher pode entrar nessa lista – mas não entraria se eu fosse o Dicró: minha sogra, a professora Cinira, que me indicou o reumatologista certo após eu ter aumentado a hérnia por causa de um ortopedista incompetente.
Abaixo dessas três mulheres vem uma grande lista:
Minha amiga René Zelwegger (ou Viviane Cohen, parece que esse é o nome que ela usa no Brasil) fez um gesto de grande carinho ao me dar um livro espetacular (“Ali”, de David Remnick). E olha que quando eu ganhei não fiquei tão entusiasmado. O livro mudou minha maneira de ver muitas coisas.
O marido dela, Luis Edmundo, merece também agradecimentos, apesar de ter me trazido de presente um CD que eu precisei esconder.
Grande também foi a nobreza do dono da birosca, que além da solidariedade e dos diversos telefonemas, também me deixou aqui o Nintendo 64 com o FIFA 98. Graças a ele eu pude me distrair da dor. Sem contar que ganhei cinco Copas pela Itália, três pelo Brasil, sete ligas italianas com a Lazio, três inglesas com o Arsenal, quatro espanholas com o Real Madrid e ainda transformei o Flamengo no novo decacampeão brasileiro por pontos corridos. Palmas para o homem, portanto.
Lá do meu trabalho, destaco várias pessoas. O grande Roberto Chahim me deu ajudas inestimáveis – não tem preço o que o cara fez. Agradecimentos também a Rodrigo Mattos (pelas visitas em dias de peladas do Flamengo), ao editor Marcelo Damato (em nenhum momento deixou de ter extrema compreensão do meu problema), ao editor André Loffredo (um dos primeiros a me ligar de lá), ao vascaíno de alma rubro-negra Thiago Lavinas (um dia ele vai se assumir como torcedor do Flamengo), ao grande Carlos Alberto Vieira e aos jornalistas milionários de SP, Erich Beting e Mateus Benato.
De ex-lanceiros, valeu a força do atual JBzeano Guto Seabra, do colorado Alexandrino, da Ana Luisa Hissa e da amiga Danielle Rocha.
A lista é grande mesmo. Poderia ter cinco mil nomes que não seria completa sem o nome do grande contemporâneo Alexei Gonçalves de Oliveira, que foi para mim uma espécie de psicanalista on-line. Se não estou no Pinel, isso se deve em muito ao Alexei. E o cara continua me dando força, agora que o problema passou a ser cuidar do meu fígado (por causa da ação nociva dos remédios). Um abraço também para o super-repórter do Informática e meu grande baterista André Machado, um dos primeiros a me ligar. Dessa mesma galera, um caminhão de “obrigados” para o mega-empresário da literatura Augusto Sales e para a professora Patrícia Tesch.
A quadrilha de marginais que habita um certo jornal da Rua do Riachuelo também merece meu agradecimento, pelos telefonemas desejando “melhoras mas nem tanto”: Fábio Pai Varsano, Otávio Leite, Sérgio Ramalho, Aluizio Freire & Adriana Cruz. Não sei se posso ser preso escrevendo tantos nomes de bandidagem assim.
Para não dizer que meus amigos são apenas municipais e estaduais, vale lembrar também a grande força on-line dos amigos da lista Fla-Bujica, principalmente do grande Juan Saavedra, que de Curitiba desembarcou por aqui para uma visita. Falando nisso, vale também a menção a dois rubro-negros que me concederam horas de papo sobre futebol via telefone: os figuraças Dudo Hardy e Alexandre Lalas. Sem contar o corintiano (mais sofredor do que nunca) Cascalho Ventura, que me ligava de São Paulo a cada porrada que o Timão levava. A sorte pelo menos é que ele está esperando a chegada da filha Luiza (vai ser com Z?) e pode esquecer das viadagens de Vampeta & cia.
Um agradecimento também especial para a amiga Sandra de Souza, que me indicou um excepcional neurologista – que ainda vai ser muito útil. Também para o historiador de rock and roll Rodrigo Cobra, pelas ligações telefônicas informando as grosas de CD semanais que ele costuma comprar. Vale também o apoio verbal e espiritual (ele vai dizer que “espiritual” é coisa de viado...) do Maggi, sempre presente.
Para essa aqui, além de agradecimento, segue a solidariedade e a minha torcida: Isabela Bastos. Passamos um bom tempo trocando impressões sobre a dor – espero que, como eu, ela consiga vencer a dela sem cirurgia.
Tem mais nome de gente aqui do que de favela em letra de funk. Mas ainda tenho medo de ter esquecido alguém. Enfim, é só uma forma de dizer que sozinho, definitivamente, a gente tá fudido. Valeu, gente. Estou de volta.

11 novembro, 2003

Vá de trem
Se é verdade o escrito abaixo, não sei e não tenho como confirmar - recebi por email do dono da birosca (mais ativa agora.
Em todo caso, vale a lida. Mais alguns motivos para eu não gostar de avião (além do preço das passagens, claro):

Após cada vôo, pilotos preenchem um formulário, comunicando aos mecânicos em terra qualquer problema que o avião tenha tido durante o vôo. Os mecânicos o lêem e corrigem o problema, e, na metade inferior do formulário, descrevem por escrito a solução que foi adotada. O piloto revê o relatório antes do vôo seguinte. Que não se diga que o pessoal de terra e os engenheiros não tenham senso de humor...

Aqui estão alguns problemas reais de manutenção submetidos
pelos pilotos da Qantas (empresa Aérea Australiana) e as
soluções registradas pelos engenheiros.


A propósito, Qantas é a única grande empresa aérea que nunca
registrou acidente aéreo algum.

(P = problema acusado pelo piloto)
(S = solução adotada pelo engenheiro em terra)

P: Pneu esquerdo principal interno quase precisando de
substituição.
S: Pneu esquerdo principal interno quase substituído.

P: Teste de vôo OK, exceto pelo piloto automático, que pousa
mal o avião.
S: Piloto automático não instalado nessa aeronave.

P: Alguma coisa está solta no cockpit.
S: Alguma coisa foi apertada no cockpit.

P: Besouros mortos no para-brisa.
S: Besouros vivos já encomendados.

P: Piloto automático não mantém nível, produzindo ascenção
de 200 pés por minuto.
S: Não pudemos reproduzir o problema no solo.

P: Evidências de vazamento na engrenagem principal de pouso.
S: Evidências removidas.

P: As travas de fricção estão prendendo os controles.
S: É para isso que servem as travas de fricção.

P: IFF inoperante.
S: IFF sempre inoperante quando DESLIGADO.

P: Suspeitamos de trinca no para-brisa.
S: Suspeitamos de que vocês estejam certos.

P: Turbina número 3 perdida.
S: Após breve busca, turbina número 3 localizada na asa
direita.

P: A aeronave se comporta de modo engraçado.
S: A aeronave foi advertida para se comportar, voar direito
e ficar séria.

P: O radar faz ruído fora de tom.
S: Radar reprogramado para executar líricos.

P: Rato no cockpit.
S: Gato prontamente instalado.

09 novembro, 2003

Fenômeno de mídia
Ouço rádio durante as caminhadas. Em qualquer uma, seja AM ou FM, aparece lá a voz dele - "Olhou, levou" ou "Qué pagá quanto?". TV, seja a cabo ou aberta, tá lá o homem. Em qualquer canal, em vários tipos de filmes comerciais. Me disseram que no Centro da cidade os camelôs adotaram seus bordões.
Não há dúvida: o cara das Casas Bahia é o sujeito mais visto e ouvido no Brasil hoje. Arriscaria a dizer que o cara ganha qualquer eleição que disputar. Qué apostá quanto?

Dois anos
Esse endereço aqui fez dois anos sexta passada. Bom, e eu (e vocês) com isso?

O melhor disco (ou CD) de música brasileira de todos os tempos


Essa é a caixa - não consegui imagem pequena do CD, mas se você quiser ver como é a capa, tá aqui

A boa gravadora Biscoito Fino, que organizou a caixa "Faxineira das canções", de Elizeth Cardoso, parece que dá mais uma chance aos pobres mortais de adquirirem o melhor CD da história da MPB. Me disseram que o disco "Ao vivo no Teatro João Caetano com Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e Época de Ouro" está disponível fora da caixa, ou seja, ainda mais barato que os R$ 70 que se paga pela caixa inteira(no site da Som Livre, com mais três CDs (até desnecessários, na minha opinião). Se quando o LP foi lançado, no final de 1969 (eu tinha pouco mais de um ano), já era possível que críticos especializados como Sérgio Cabral (o pai) classificassem o mesmo como "o maior disco da MPB", depois que o CD duplo acrescentou nada menos que 26 músicas, aí a discussão efetivamente termina.
Somente a audição sem pressa desse excepcional show pode dar uma dimensão da grandeza de todos os músicos envolvidos nesse show inigualável. Para começo de conversa, Elizeth e Zimbo Trio se entendiam bem, assim como Elizeth e Jacob - que foi seu descobridor, em 1963. Mas a totalidade dos músicos, inclusive o conjunto Época de Ouro (espetacular), não tinha o menor entrosamento, e apenas se encontraram NA VÉSPERA do grande show, realizado em 19 de fevereiro de 1969. O objetivo era arrecadar recursos para o Museu da Imagem e do Som, que na época lançaria o LP. O disco é tão síntese do que é o Brasil que na véspera do show os músicos se entrosaram por meio de uma...feijoada.
No repertório do CD lançado este ano pela Biscoito Fino, a síntese do que a música brasileira havia produzido de melhor até aquele ano - e talvez o repertório não mudasse tanto se Elizeth estivesse viva. As canções escolhidas são incríveis.
De Vinícius, ela canta a capella um número de arrepiar: "Serenata do Adeus". No LP, só tinha essa música cantada sem acompanhamento. No CD, com a íntegra do show, Elizeth emenda com "Canção do Amor Demais" ("Quero chorar/porque te amei demais/quero morrer/porque me deste a vida") , também do Vinícius, mas em parceria com Tom.
Sinceramente, essas duas canções poderiam credenciar Elizeth Cardoso facilmente como a maior de nossas cantoras ("Voz de mãe, mãe de todas as cantoras do Brasil", diz Chico Buarque em um encarte da caixa). Mas ainda há muito mais no show, momentos que para a platéia presente devem ter sido inesquecíveis, como a interpretação magistral dela para "Feitio de Oração" e "Feitiço da Vila", ambas de Noel Rosa. Elizeth tinha 49 anos no dia do show, mas cantava docemente, não como uma velha senhora conhecida como "divina dama" (como era sua imagem ao fim de seus dias) e sim como uma artista explodindo em êxtase, em energia, fazendo a voz ganhar coragem. A voz de Elizeth tinha coragem, é isso.
O refrão da marcha carnavalesca "Barracão" (Luiz Antonio/Oldemar Magalhães) mostra essa coragem, com simplicidade - Elizeth transforma a marcha em um lamento de protesto, uma música que dá arrepios, ainda mais naquele ano de 1969, e ainda mais dois meses depois do AI-5. ("Vai, barracão, pendurado no morro/me pedindo socorro/A cidade a teus pés/Barracão de zinco/Tradição do meu país/Pobretão, infeliz").
Enquanto Elizeth canta como se fosse se despedir da vida ao fim do show, vale frisar que Jacob do Bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio tocam ABSURDAMENTE. Há três faixas só do trio (baixo, piano e bateria) jazzístico, sem contar três de Jacob, tocando "Murmurando" (não me lembro de quem), "Noites cariocas" (se você ainda não se cansou de ouvir esse choro, não se canse antes de ouvir com o autor, o próprio Jacob) e "Chega de Saudade". Sobre esta última, Jacob contou em carta sobre o encontro com Tom Jobim. Segundo o bandolinista, Tom reclama: "Como é que você sabe que esse samba tem TODAS as 17 versões ERRADAS?".
Traduzindo: além de tudo, o CD ainda tem "Chega de Saudade" em versão instrumental, tocada por Jacob do jeito que Tom queria de verdade.
Tendo sobrevivido a um enfarte meses antes (sua mulher estava no início da platéia com remédios para uma eventual recaída), Jacob do Bandolim consegue ser o maestro desse encontro mágico - não conheço bem sua biografia, mas sei que esse show deve ter sido a última grandiosidade que ele cometeu, já que morreria em agosto daquele mesmo ano.
Há quem considere "Chão de Estrelas" (de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, uma das músicas escritas no calçadão da 28 de setembro em Vila Isabel) o momento máximo desse show ("A porta do barraco era sem trinco/mas a lua furando nosso zinco/salpicava de estrelas nosso chão"). Mas é perigoso afirmar, porque depois dela os gigantes em palco ainda tocam "Lamento" (Pixinguinha/Vinícius), "Tempo Feliz"(Baden-Vinícius), "Apelo"(idem), "Carolina" (Chico Buarque), "Até amanhã" (Noel Rosa) e "Carinhoso" (também do Pixinguinha, mas com João de Barro). É um disco em que tudo atinge o nível máximo: repertório, músicas, composições, letras, melodia, voz, acompanhamento e até o público, que encerra tudo cantando "Está chegando a hora" (a versão em português de "Cielito Lindo" que cantamos ao fim dos jogos no Maracanã) com o acompanhamento de Jacob do Bandolim.
Será difícil alguém igualar o feito desses gigantes no João Caetano. Não me lembro em que ano morreu Elizeth, mas me lembro do que a ironia do destino reservou para ela: seu velório foi encaminhado para o mesmo teatro João Caetano onde ela soltou sua voz para voar pela eternidade. E por coincidência, naquele mesmo dia haveria show do humorista Ary Toledo, que pensou em cancelar ? mas foi convencido a seguir com o compromisso. As pessoas então saíam rindo do teatro até se depararem com o velório de Elizeth.
Ela, que anos antes, quando chamada de "a maior cantora do mundo", fez que "não? com a cabeça e disse: "A maior cantora do mundo está lá em cima", referindo-se a uma certa Elis Regina. Ao ler isso no texto de Hermínio Bello de Carvalho que vem com o disco, entendi porque Elizeth era "A Divina" - é preciso ser realmente do mundo divino para não fazer questão de ser a maior no mundo dos homens. Ouvir esse show é uma forma de estar em algum lugar com Elizeth.

04 novembro, 2003

Marcello chorou


Fellini e Mastroianni: dois gênios que se foram


Quando Fellini morreu – há exatos dez anos e quatro dias – a primeira pessoa em quem pensei foi em seu amigo Marcello Mastroianni, na minha opinião,disparado o maior ator de todos os tempos. E, de forma isenta, posso acrescentar, sem boiolices, que era insuperável em beleza física também. Mastroianni, no entanto, parecia colocar acima de todas as qualidades a expressão impagável de Marcello Mastroianni, que aparece tanto na pele de seu personagem Marcello em “La Dolce Vita”. A expressão de estupefação, de intrigado, que é para mim uma marca da dupla Mastroianni-Fellini.
Pois veio o Jornal Nacional da noite daquele 31de outubro de 1993, eu com meus 25 anos mas já tendo visto “Amarcord” e “Noites de Cabíria” (meus dois favoritos) além de “Oito e meio”, que eu vi mas tenho que ver mais umas cinco vezes para poder entender (eu era louro quando eu tinha mais cabelo).
“Morreu hoje o cineasta Federico Fellini, etc, etc”. Vai aparecendo imagem do velório, feito na Cinecitá, em um ambiente que certamente seria aquele em que Fellini filmaria seu próprio velório – se é que isso é possível, se é que isso não aconteceu. Ao fundo, o céu pintado utilizado por ele em “Entrevista”. Câmera vai fechando em Mastroianni, locução em off registra a presença do eterno amigo de Federico. E Mastroianni (que também já se foi) estava com o rosto contorcido de dor e choro pela perda realmente irreparável, inestimável, para a humanidade e para as pessoas de bem. Pensei no tanto de tempo que os dois estiveram juntos, no quanto de eternidade haviam produzido com seus filmes que serão vistos daqui a uns setenta, oitenta anos. Talvez não cem. O mundo está ficando muito diferente do futuro desejado pelos filmes de Fellini – e só quem viu “Amarcord” pode entender isso.
Vi há uns oito meses “Amarcord” no cinema, com Marcele. Passou no Estação Paissandu, ali no Flamengo. É um choque sair da cidade de Fellini para o Rio de Rosinha, por isso que me incomoda tanto até hoje quando se vão pessoas como Fellini e ficam sujeitos meio belicosos andando por aí.
Se eu pudesse me atrever a definir “Amarcord” (não tenho suficiente formação intelectual para tal feito), eu diria que é o filme das duas horas finais de uma vida. Não tem aquela lenda de que nos minutos finais toda sua vida passa diante de seus olhos? Aliás, nem acho que seja lenda, mas vá lá. Eu creio que Fellini, de alguma forma foi mágico o suficiente (ora, não era ele quem dizia que se não tivesse virado diretor de cinema gostaria de ter sido mágico?) para ”filmar” as visões derradeiras dos olhos de um moribundo apaixonado por sua cidade natal, uma cidade que ele nunca mais veria. Talvez o sentimento que Orson Welles mostra em “Cidadão Kane”com Rosebud, aquela sensação de perda, porque afinal de contas não são só os lugares que ficam para trás – também se vão os momentos. Também se vão as Gradiscas, lindas princesas que se casam em cerimônias inesquecíveis ao ar livre, regadas de vinho. Também se vai o pavão que se abre em meio à neve. E o cinema, do qual todos saem correndo, deixando Gary Cooper para trás na telona para ver a vida real – “Venham todos, está nevando”.
“Amarcord” parece ser um filme sem roteiro, sem história, sem efeitos especiais, mas na verdade não conheço nenhum filme que tenha esses três elementos que chegue ao nível de hipnose e encantamento produzido pela obra-prima de Fellini. A cena em que os moradores da pequena cidade, em um barquinho, vão ao alto mar à noite para ver a passagem do gigantesco transatlântico é algo que parece definitivamente saído de um sonho. E tem a simplicidade das coisas eternas.
Sim, faz dez anos que Fellini se foi. Me lembro de uma de suas últimas entrevistas, no qual ele diz uma frase emblemática: “Eu me abandonei”.
E no dia 31 de outubro ele abandonaria todos nós, deixando o mundo um pouco mais sem graça, sem poder – como registrou brilhantemente Arnaldo Jabor, esse sim, com embasamento intelectual – esperar por mais um filme de Fellini, que fazia da vida real uma vida mais simples, um cinema eterno, inesquecível.